Abraçados

Vivi. Com aquelas mãos azafamadas sobre meus cabelos, na ânsia louca de tê-los apertados contra si mesmas, confesso que vivi; o momento da sua boca encostando a minha pela vez primeira, como pomba branca que beija o céu no azul do bater das asas, contra o crepúsculo...sei que vivi. Porque embora simples e sem nenhum ato concretizado, estávamos um do outro tão próximos que nossas mãos tesas se continham retidas uma na outra, e, sem saber, nos amávamos assim mesmo, muito mais que outros amantes do desejo; pois éramos simples entre beijos e abraços, dóceis de ternuras e enseios: dois sem-jeito, sem-graça. Talvez sem pretensões, amantes sem sexo, como se nossos instintos fossem tão cândidos entre si que guardassem o leve senso da harmonia, que se tornassem pertencidos mesmo sem burlar fronteiras físicas. Impressiona ter ficado em mim essa sensação de vida cotidiana a dois, mesmo sendo cedo demais pra pensar assim ou até mesmo mentira, que cada vez mais me convenço de estar vivendo; não importa: vivi. Antes de mais nada, mesmo residindo em mim imberbe sensação de estar vivendo um devaneio feérico movido pelas mãos-algures de um belo imprevisto, que haja enfim paz naquilo que sinto e que descanse por eterno a vaga sensação de se dormir sozinho.
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